A TAGARELICE INTERNA E A CANÇÃO PSICOLÓGICA
(Profº Maurício)

Para vivermos consoante a filosofia da instantaneidade e atingirmos o universo da paz, da felicidade, da liberdade e do amor, precisamos extirpar de dentro do nosso universo psicológico os elementos psicológicos inumanos componentes do ego que engendram a tagarelice interna e a canção psicológica.

Ao praticarmos continuamente o exercício da auto-observação iremos verificar atônitos que há diálogos, vozes, canções e imagens no nosso interior psicológico, de instante a instante, que roubam a nossa energia, causam-nos transtornos e tiram a nossa oportunidade de crescimento anímico e a elevação do nosso nível de Ser. Para aprendermos concretamente a fundo, como isto ocorre, vamos estudar os tópicos abaixo, extraídos, na íntegra, do livro Tratado de Psicologia Revolucionária do Dr. Samael Aun Weor:

A Tagarelice Interna - "Torna-se urgente, inadiável, impostergável, observar a tagarelice interior e o lugar preciso de onde provém. Inquestionavelmente, a tagarelice interior equivocada é a "causa causorum" de estados psíquicos inarmônicos e desagradáveis no presente e também no futuro. Obviamente, esse palavreado inútil, insubstancial e de sentido ambíguo, e em geral toda ação prejudicial, daninha, absurda, manifestada no mundo exterior, tem sua origem na conversação interior equivocada. Sabe-se que existe na Gnose a prática esotérica do silêncio interior; isto o conhecem nossos discípulos de Terceira Câmara"’.

‘Não será supérfluo dizer com inteira claridade que o silêncio interior deve referir-se especificamente a algo muito preciso e definido. Quando o processo do pensar se esgota intencionalmente durante a meditação interior profunda, consegue-se o silêncio interior; mas não é isto o que queremos explicar no presente capítulo. "Esvaziar a mente" ou "pô-la em branco" para conseguir realmente o silêncio interior, tampouco é o que intentamos explicar agora nestes parágrafos.

‘Praticar o silêncio interior a que estamos nos referindo tampouco significa impedir que algo penetre na mente. Realmente, estamos falando agora de um tipo de silêncio interior muito diferente. Não se trata de algo vago e geral... Queremos praticar o silêncio interior em relação a algo que já esteja na mente: pessoa, acontecimento, assunto próprio ou alheio, o que nos contaram, o que fez fulano, etc., mas sem tocá-lo com a língua interior, sem discurso íntimo... Aprender a calar não somente com a língua exterior, mas também, além disso, com a língua secreta, interna, resulta extraordinário, maravilhoso.’

‘Muitos calam exteriormente, mas com sua língua interior esfolam vivo ao próximo. A tagarelice interior venenosa e malévola produz confusão interior. Se observarmos a tagarelice interior equivocada, veremos que está feita de meias verdades, ou de verdades que se relacionam de um modo mais ou menos incorreto, ou do algo que se agregou ou se omitiu. Desgraçadamente, nossa vida emocional se fundamenta exclusivamente na "auto- simpatia”’.

‘Para o cúmulo de tanta infâmia, só simpatizamos conosco mesmos, com nosso "querido Ego", e sentimos antipatia e até ódio daqueles que não simpatizam conosco. Valorizamos demasiadamente a nós mesmos, somos cem por cento narcisistas, isto é irrefutável, irrebatível. Enquanto continuemos bloqueados na "auto-simpatia", qualquer desenvolvimento do Ser tornar-se absolutamente impossível.’

‘Necessitamos aprender a ver o ponto de vista alheio. É urgente sabermos colocar-nos na posição dos outros. "Tudo o que quereis que os homens vos façam, fazei-o vós a eles" (Mateus VII, 12). O que verdadeiramente conta nestes estudos é a maneira como os homens se comportam interna e invisivelmente uns com os outros. Infelizmente, ainda que sejamos muito corteses e até sinceros às vezes, não há dúvida de que, invisível e internamente, nos tratamos muito mal uns aos outros. Pessoas aparentemente muito bondosas arrastam diariamente seus semelhantes até a cova secreta de si mesmas para fazer com estes todos os seus caprichos (humilhações, engano, escárnio, etc.).”

‘A Canção Psicológica - Chegou o momento de refletir muito seriamente sobre isso que se chama "consideração interna". Não cabe a menor dúvida sobre o aspecto desastroso da "autoconsideração íntima", pois, além de hipnotizar a consciência, ela nos faz perder muitíssima energia. Caso a pessoa não cometesse o erro de identificar-se tanto consigo mesma, a autoconsideração interior seria totalmente impossível. Quando alguém se identifica consigo mesmo, quando se quer muito, sente piedade de si mesmo, se autoconsidera, pensa que sempre se portou bem com Fulano, com Cicrano, com a mulher, com os filhos, etc., e que ninguém soube apreciá-lo, etc. Em suma, pensa que é um santo, e os outros uns malvados, uns velhacos.’

‘Uma das formas mais comuns da autoconsideração íntima é a preocupação pelo que outros possam pensar sobre nós mesmos; talvez suponham que não somos honrados, sinceros, verídicos, valentes, etc. O mais curioso de tudo isso é que ignoramos lamentavelmente a enorme perda de energia que esse tipo de preocupações nos traz.’

‘Muitas atitudes hostis para com certas pessoas, que mal algum nos fizeram, se devem precisamente a tais preocupações nascidas da autoconsideração íntima. Nestas circunstâncias, quando se quer tanto a si mesmo, autoconsiderando-se deste modo, é claro que o Eu, ou melhor dizendo, os Eus, em vez de se extinguirem, se fortalecem espantosamente. Identificada consigo mesma, a pessoa se apieda muito de sua própria situação, e até se põe a fazer contas. Então é que pensa que Fulano, que Cicrano, que o compadre, que a comadre, que o vizinho, que o patrão, que o amigo, etc. não lhe pagaram como deviam, apesar de suas costumeiras bondades, e, engarrafado nisso, torna-se insuportável e aborrecedor para todo mundo. Com um sujeito assim praticamente não se pode falar, porque qualquer conversa seguramente vai parar no seu livro de contas e em seus tão cacarejados sofrimentos. Está escrito que, no trabalho esotérico Gnóstico, o crescimento anímico só é possível mediante o perdão aos outros.’

‘Se alguém vive de instante em instante, de momento em momento, sofrendo pelo que lhe devem, pelo que lhe fizeram, pelas amarguras que lhe causaram, sempre com sua mesma canção, nada poderá crescer em seu interior. A Oração do Senhor disse: "Perdoa as nossas dívidas, assim como nós perdoamos a nossos devedores". O sentimento de que alguém nos deve, a dor pelos males que os outros nos causaram, etc, detém o progresso interior da alma. Jesus, o Grande Kabir, disse: "Entra em acordo sem demora com o teu adversário, enquanto está em caminho com ele, para que não suceda que te entregue ao juiz, e o juiz te entregue ao seu ministro e sejas posto em prisão. Em verdade te digo, dali não sairás antes de teres pago o último centavo" (Mateus V, 25,26).’

‘Se nos devem, devemos. Se exigirmos que nos paguem até o último cruzeiro, devemos pagar antes até o último centavo. Esta é a "Lei de Talião": "Olho por olho e dente por dente", círculo vicioso, absurdo. As desculpas, satisfações e humilhações que a outros exigimos, pelos males que nos causaram, são também exigidas a nós, ainda que nos consideremos mansas ovelhas. Colocar-se sob leis desnecessárias é absurdo, melhor é colocar-se sob novas influências. A Lei da Misericórdia é uma influência mais elevada que a Lei do homem violento, "Olho por olho, dente por dente". É urgente, indispensável, inadiável, colocar-nos inteligentemente sob as influências maravilhosas do trabalho esotérico Gnóstico, esquecer que nos devem e eliminar de nossa psique qualquer forma de autoconsideração.’

‘Jamais devemos admitir dentro de nós sentimentos de vingança, ressentimento, emoções negativas, ansiedades pelos males que nos causaram, violência, inveja, recordação incessante de dívidas, etc. A Gnose está destinada àqueles aspirantes sinceros que verdadeiramente queiram trabalhar e mudar. Observando as pessoas, podemos evidenciar de forma direta que cada uma tem sua própria canção. Cada qual canta sua própria canção psicológica; quero referir-me de modo enfático a essa questão das contas psicológicas, sentir que lhe devem, queixar-se, autoconsiderar-se, etc.’

‘Às vezes as pessoas cantam sua canção "sem que nem porque", "sem que se lhes dê corda", sem que se as estimule, e, em outras ocasiões, depois de umas quantas taças de vinho... Nossa aborrecida canção deve ser eliminada, ela nos incapacita, nos rouba muita energia. Em questão de Psicologia Revolucionária, alguém que canta muito bem - não nos referimos à formosa voz nem ao canto físico - certamente não pode ir além de si mesmo, fica no passado.’

‘Uma pessoa impedida por tristes canções não pode mudar seu Nível de Ser, não pode ir além do que é. Para passar a um Nível Superior do Ser, é preciso deixar de ser o que se é, necessitamos não ser o que somos. Se continuarmos sendo o que somos, nunca poderemos passar a um Nível Superior do Ser. No terreno da vida prática acontecem coisas insólitas. Freqüentemente uma pessoa qualquer trava amizade com outra, só porque é fácil cantar sua canção para ela. Infelizmente, esse tipo de relações termina quando se pede ao cantor que se cale, que "mude o disco", que fale de outra coisa, etc. Então, o cantor, ressentido, vai-se em busca de um novo amigo, de alguém que esteja disposto a escutá-lo por tempo indefinido. Compreensão, exige o cantor. Alguém que o compreenda, como se fosse tão fácil compreender outra pessoa. ’

‘Para compreender outra pessoa é preciso compreender a si mesmo. Infelizmente, o bom cantor crê que compreende a si mesmo. São muitos os cantores decepcionados que cantam a canção de não serem compreendidos e sonham com um mundo maravilhoso onde eles são as figuras centrais. Contudo, nem todos os cantores são públicos, existem também os reservados; não cantam a sua canção diretamente, mas secretamente. É gente que trabalhou muito, que sofreu muito, e se sente defraudada, pensam que a vida lhes deve tudo aquilo que não foram capazes de conseguir. Comumente sentem uma tristeza interior, uma sensação de monotonia e aborrecimento espantoso, cansaço íntimo ou frustração ao redor da qual se amontoam os pensamentos. Inquestionavelmente, as canções secretas fecham-nos a passagem no caminho da auto- realização íntima do Ser.’

‘Infelizmente, tais canções interiores, secretas, passam despercebidas para nós, a menos que as observemos intencionalmente. Obviamente, toda observação de si deixa penetrar a luz na própria pessoa, em suas profundidades íntimas. Nenhuma mudança interior poderia ocorrer em nossa psique, a não ser à luz da observação de si. É indispensável observar a si mesmo, estando sós, do mesmo modo que ao estar em relação com as pessoas. Quando alguém está só, se apresentam "Eus" muito diferentes, outros pensamentos, emoções negativas, etc. Nem sempre se está bem acompanhado quando se está só. É apenas normal, é muito natural, estar muito mal acompanhado em plena solidão. Os "Eus" mais negativos e perigosos se apresentam quando se está só. Se quisermos transformar-nos radicalmente, necessitamos sacrificar nossos próprios sofrimentos. Muitas vezes expressamos nossos sofrimentos em canções articuladas ou inarticuladas.” ( VM. Samel Aun Weor )

QUESTÃO DE ESTUDO

Após a leitura deste texto clique aqui, assista aos vídeos da conferência 15 e faça uma síntese conceitual do assunto, descrevendo aTagarelice Interna e a Canção Psicológica.

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