A GNOSE E OS GNÓSTICOS ATRAVÉS DOS TEMPOS

( Maurício da Silva)
 

A gnose, que é o conhecimento de todas as coisas, sempre esteve presente no seio da humanidade, desde princípio do mundo até nossos dias, hora de modo velado, como conhecimento ocultado do grosso da massa humana, hora como conhecimento desvelado, mas para poucos, através de grandes mestres da humanidade. Como ocorreu em 1950, ano em que o Dr. Samael Aun Weor restaurou a gnose, fundando o Movimento Gnóstico Cristão Universal, configurando-o como um movimento filosófico, científico, místico, sem fins lucrativos. Após a morte do Dr. Samael, o Sr. Joaquim Henrique Amortegui Valbuena, o VM. Rabolú, o sucedeu na condução do Movimento Gnóstico até sua morte no ano 2000, quando então foi desativado o Movimento gnóstico, no plano físico.

 

O Movimento da Gnose se deu de modo contínuo e gradativo ao longo dos tempos da história da humanidade. A Gnose é algo dinâmico, que se movimentou no passado, movimenta-se no presente e movimentar-se-á no futuro em três círculos: Na exotérica para o grande público, na mesotérica para poucos iniciados e na esotérica entre os raros e grandes mestres da humanidade, segundo o paradigma hermético. Hermes Trismegistro assim dizia: “o conhecimento está para a massa, mas a massa não está para o conhecimento”. Leonardo da Vince, com relação ao conhecimento, assim expressou: “Alguns veem, sem que alguém lhes mostre, outros veem, quando alguém lhes mostra e muitos não veem nunca, nem que alguém lhes mostre".

 

O movimento da Gnose se dá em todo o cosmos. A gnose enquanto conhecimento, no sentido de sabedoria, é infinita, eterna está presente em todo o cosmos, através de Deus, que é supremo Criador e conhecedor de todas as coisas.

 

O movimento da gnose se dá ao longo das sete raças-raízes. A gnose esteve e estará presente ao longo das sete raças- raiz. Na Lemúria houve uma intensa movimentação do conhecimento gnóstico, conforme podemos pesquisar na Antropognose do V.M. Samael Aun Weor. Da mesma forma ocorreu na Atlântida, o que está devidamente documentado na Bíblia Sagrada, nos escritos de Platão e de Samael Aun Weor. Desta forma ela se movimentou ao longo da existência das quatro raças raízes que nos antecederam, está se movimentando ao longo da nossa atual quinta raça-raiz e se movimentará na sexta e na sétima raças-raiz.

 

O movimento da gnose se deu na Antiguidade. Na antiguidade, a gnose se movimentou através de diversas escolas iniciáticas. Entre elas podemos citar o bramanismo, o zoroastrismo; o budismo, a escola egípcia, a escola grega, a romana, etc.

 

Como se movimentou a gnose um pouco antes de Cristo? A gnose se movimentou por meio da escola dos Nazarenos, Essênios e outros.

 

Como se deu o movimento da gnose na época de Cristo? Na época de Jesus Cristo a gnose se movimentou com todo o seu esplendor. Pois estava presente, na Terra, o mestre dos mestres em sabedoria.

 

Como se movimentou a gnose depois de Cristo? Depois da ida do Redentor, a gnose se movimentou entre os gnósticos da catacumba, por meio dos alquimistas, das cruzadas, da maçonaria, da rosacruz, da teosofia, da antroposofia, etc.

 

Como se dá o movimento da gnose modernamente? Modernamente, em 1950, o V.M. Samael Aun Weor restaurou a gnose, que se movimentou em quais todos os países do mundo até 1977 por meio do Movimento Gnóstico Cristão Universal, quando veio a deixar este mundo. Em seu lugar ficou um dos seus discípulos prediletos, o V.M. Rabolú. O V.M. Rebulo esteve à frente do Movimento Gnóstico Cristão na Nova Ordem até o ano de 2000, quando deixou este mundo.

 

Como está o movimento da gnose na atualidade? Atualmente o Movimento Gnóstico Cristão da Nova Ordem foi desativado por meio do V.M. Rabolú. Existem ainda grupos de estudos gnósticos independentes, que ainda estudam a gnose, por iniciativa particular. Ao desativar o movimento da gnose o V.M. Rabolú retirou-o dos grupos de estudos institucionalizados e o levou para o público externo, por meio do livrinho Hercólubus. No livro Hercólubus, veiculado pela Fundação V.M. Rabolú da Colômbia, o V. M. Rabolú já se dirigiu ao grande público da humanidade e não mais para o pequeno grupo de estudantes gnósticos pertencentes aos grupos de estudos do Movimento Gnóstico Cristão Universal na Nova Ordem.

 

Isto já havia ocorrido na história, quando Jesus Cristo veio para os judeus (iniciados). Estes não o aceitaram, então ele se dirigiu para os humildes (não iniciados).

 

Em 1950, O Cristo da Era Aquariana, Samael Aun Weor, Senhor de Marte, o Buda Maitréia, restaurou a Gnose, ao nos entregar de forma totalmente desvelada os ensinamentos crísticos que o Grande Kabir Jesus havia deixado aos seus apóstolos para que entregassem à humanidade.

 

O V.S. Samael desencarnou em 1977 e deixou o seu fiel discípulo, V.M. Rabolú, no comando do Movimento Gnóstico, dando a ele todas as prerrogativas para reformular o Movimento Gnóstico, conforme podemos ler no livro As Três Montanhas. O V.M. Samael anunciou referendou o V.M Rabolú num congresso com milhares de delegados gnósticos do mundo inteiro.

 

O V.M. Rabolú fez as reformulações necessárias no Movimento Gnóstico, dando vida e organicidade a ele. Em 2000 o V.M. Rabolú veio a falecer. Um pouco antes de falecer ele desinstitucionalizou o Movimento Gnóstico, por falta de praticidade de seus membros.

 

O V.M. Rabolú que havia escrito vários livros, para orientação dos estudantes gnósticos de cunho interno ao movimento, resolve escrever um último livro, Hercólobus, mas já destinado ao público externo ao movimento. Numa tentativa de encontrar na massa humana pessoas raras, ainda com anelos espirituais, o que não encontrara no Movimento Gnóstico Institucionalizado, para aprenderem e vivenciar a gnose.

 

Nos dias atuais, já no ano 2009, ainda há algumas poucas pessoas, que se reúnem isoladamente, em grupos de estudos, e ainda estudam e vivenciam os ensinamentos deixados pelos Veneráveis Mestres Samael e Rabulú.

 

A verdade é que o número de pessoas qualificadas para aprender e vivenciar os princípios gnósticos cada dia decresce mais, numa proporção inversa ao volume de informações sobre gnose que circulam em livros e na internet.

 

Milhares de estudantes gnósticos que estudaram, pesquisaram e não vivenciaram a gnose, ao longo dos tempos, quando a gnose ainda estava instituída, já voltaram à suas ordens místicas de outrora, semelhante à Fábula do Peixinho, para cumprir a profecia da colheita zero, na Idade de Ferro.

 

A Fábula do Peixinho diz que havia um peixinho, que morava num determinado rio e era sequioso, havido por conhecer o oceano. Então ele se dispôs a nadar e ia nadando, nadando e nadando, à medida que o tempo ia passando e nada dele encontrar o oceano. Já havia passado muito tempo, já estava cansado e nada. Na sequência dos fatos eis que ele avistou um peixe mais velho, com aparência de sábio, de Mestre.

 

– Senhor peixe velho, o senhor que parece ter tanta sabedoria, poderia dizer onde fica o Oceano?

 

– Sim meu caro peixinho, eu posso dizer sim. Mas antes você poderia me dizer a razão pela qual quer tanto conhecer o Oceano?

 

– Eu sei que no oceano poderei apreender, pesquisar e vivenciar o todo do conhecimento. No Rio, eu só poderei conhecer uma parte!

 

– Muito bem senhor peixinho eu sinto muito em dizer que você já está nadando no Oceano há muito tempo.

 

– Obrigado Peixe velho, eu vou embora, vou continuar procurando o oceano, eu me enganei, você é um bobo, não é um sábio nada, como eu achava!

 

O Peixinho indignado deu meia-volta e partiu para sempre. Certamente ele passou, na volta, pelo mesmo lugar que passara na ida. Ele está procurando o oceano até hoje. Nem se quer ele desconfia que já estivera lá, mas não o reconhecera, devido à falta de percepção, de maturidade, de compreensão, de consciência.

 

Os evangelhos apócrifos de Qumran, no Mar Morto, na Palestina e de Nagh-Hammadi , no Alto Egito, vieram colaborar para a elucidação da importância dos gnósticos para a disseminação da cristandade primitiva, tal como era vivenciada nos tempos de Jesus Cristo. Também o V.M. Samael Aun Weor nos dá um conhecimento grande acerca dos acontecimentos que marcaram a passagem do Mestre Jesus na Terra, da sua doutrina Cristina, da sua missão e da importância dos gnósticos na formação do verdadeiro Cristianismo.

 

A gnose, que existe deste o início das raças humanas, passou pelos lemurianos e pela Atlântida, aonde estes ensinamentos gnóstico já vinham sendo cultivados; e por meio dos atlantes chegou até aos Naga-maias do Tibet, os maias da América, aos incas do Peru, aos muiscas (da Bolívia), aos Egípcios, etc.

 

Como estava a cristandade um pouco antes de Jesus Cristo? Na região da Palestina já existiam algumas Escolas Gnósticas, como os Essênios, os Batistas (Ordem a qual pertencia João), os Nazarenos, ordem a que pertenceu Jesus Cristo, etc. Vamos encontrar nas escrituras apócrifas a descrição das atividades de Jesus entre os Essênios.

 

Os Essênios desenvolviam os seus monastérios às margens do Mar Morto. Formavam uma comunidade humilde, praticavam votos de pobreza, de castidade e cultivavam a arte do Silêncio, entre outros. Na comunidade Essênica havia o verdadeiro espírito comunitário, seus bens materiais eram compartilhados entre todos da comunidade. Tudo era de todos e não havia a posse individual, como o meu e o teu, somente o nosso.

 

Jesus Cristo, conforme mostra os evangelhos canônicos, apresenta em seus ensinamentos, o que aprendera com os essênios. Por isto ele coloca em prática a cura pela imposição das mãos, a Santa Unção, etc. Portanto, as cerimônias, as festividades, os ritos crísticos, a eucaristia, etc., não constituem em invenção dos cristãos, na nova religião que se iniciara.

 

Os essênios faziam voto de castidade ao tempo que casavam também, mas só entre os membros da própria comunidade; portanto a castidade deles não significa a ausência de sexualidade, não era como o celibato repressor dos tempos atuais, que violenta a natureza humana e exclui a mulher da vida sexual. Assim eles praticavam a Castidade Científica, isto é, praticavam a transmutação da energia sexual sem a perda do sêmen.

 

No grupo dos essênios havia também os Batistas, casta gnóstica a qual pertenceu João Batista e os Nazarenos, cuja etimologia vem da palavra naza, de onde deriva o termo nazareno com significado de representantes do culto da serpente, pois naza vem de naja, a serpente mais poderosa do oriente.

 

Nos textos de Qumran vamos encontrar que existiu um grande personagem, antes de Jesus, conhecido como o Mestre da Justiça, ou Mestre da Retidão, que foi um grande divulgador da doutrina crística nos arredores da Terra Santa.

 

Como estava a gnose na época de Jesus Cristo? Como o eixo da sabedoria iniciática estava no Egito, todos os que quisessem tornar-se sábio tinham que baixar lá, pois a gnose estava lá.

 

Como ficou gnose após a ressurreição de Jesus? Muitos anos se passaram após a ressurreição do Cristo Jesus, e seus apóstolos se espalharam por todo o Oriente e também pelo Ocidente europeu, levando a Gnose do Cristo, a mensagem de redenção aos povos pagãos da Grécia, da Ásia, do Egito, da Índia, etc. Paulo e Pedro foram pregar na Grécia e em Roma, André foi à Escócia, Tomé se dirigiu à Índia, Marcos foi ao Egito, Madalena chegou à França, Maria e José foram à Síria e Turquia e Santiago ficou em Jerusalém, etc.

 

Entre os apóstolos, cada um viveu seu drama crístico particular, nas regiões a que foi determinado a cada um, espalhando sua "boa nova" (Evangelho). Foram perseguidos, humilhados, incompreendidos, presos, torturados e, na maioria dos casos, assassinados. Mas suas mensagens foram bem acolhidas por aqueles poucos fiéis, sedentos de sabedoria divina, e, assim, com o passar dos séculos, o cristianismo gnóstico foi ganhando força e popularidade. Paralelamente a isto também, entre os gnósticos, foram crescendo gradualmente as correntes cristãs que, por um motivo ou outros eram contrárias ao ensinamento original e já não concordavam entre si sobre a mesma Gnose. Foi então aí que apareceram no cenário as primeiras divisões entre as seitas emergentes da época, já no decorrer do primeiro século.

 

“Citamos aqui uns poucos exemplos para ilustrar melhor aquele período e percebermos a diferença radical entre as seitas cristãs (que viriam a ter o nome de Catolicismo) e os gnósticos: Sitiados: Rendiam culto à Sabedoria Divina representada pela Santa Trindade – Cabem, a carne - Abel, o mediador-Set, o Deus-sabedoria – Set era considerado igual a Cristo. Os Setianos, segundo o Mestre Huiracocha, foram os primeiros Teósofos; este Mestre afirma que no sarcófago de Set foi achado o Livro dos Mortos e escondido pela Igreja Católica”.

 

Naasenos: Conhecidos como ofitas (do grego Ophis) eram "adoradores" da serpente; versados em ciência, acreditavam (esta pode ter sido sua falha) que o líquido da serpente (em sua maior parte venenoso, segundo seus detratores que não conheciam o profundo significado da "serpente e seu veneno") poderia salvar a humanidade da escravidão do pecado; foram herdeiros dos conhecimentos de Tomé e do Evangelho dos Egípcios; eram astrólogos e tinham o cálice como seu símbolo. Profundos conhecedores da Alquimia”.

 

Valentinianos: (São Valentim, morreu no ano 161 d.C.) foi expulso da Igreja por heresia; os Valentinianos mantinham contato constante com as congregações cristãs não-gnósticas da época, não eram bem-vistos pelos bispos da Igreja por "participarem das missas e homilias da Igreja e por trás interpretavam tudo diferentemente entre os seus". Isto é o que afirmava Irineu, o bispo de Lyon em suas ferozes críticas aos gnósticos; Valentim foi um grande matemático e a Cabala era sua filosofia de vida; sustentava que Jesus era gnóstico; seus ensinamentos sobre transmutação sexual eram semelhantes aos demais Mestres e escolas gnósticas”.

 

“Como se pode perceber, os conceitos entre os gnósticos e os "cristãos" eram divergentes. Os gnósticos tiveram um inimigo declarado que os perseguiu até o desaparecimento de quase todas as comunidades gnósticas: Irineu, conhecido como O Bispo de Lyon. Esse personagem, juntamente com Tertuliano, Policarpo, Justino, Inácio e Hipólito, são unânimes em declarar publicamente a "heresia" gnóstica”.

 

“Naquela época circulavam diversas Escrituras Sagradas provenientes das mais variadas regiões do Oriente. Muitos desses escritos, segundo historiadores contemporâneos, estavam saturados de elementos budistas, gregos, egípcios, hindus, etc. Isto se devia a que Alexandria, no Egito, era o centro da erudição filosófica. Ali se encontrava de tudo o que se referia ao que havia de mais atualizado no mundo da época. Além de capital comercial, a cidade de Alexandria recebia constantemente filósofos, místicos, membros de quase todas as religiões existentes em outros países, profetas (muitos deles, claro, puros charlatães), magos, visionários etc... Os sacerdotes judeus e também os cristãos faziam de tudo para evitar que os conceitos helenizados contaminassem seus templos dedicados ao Deus antropomórfico”.

 

“Entre os textos achados em Qumran destaca-se a obra Filósofo Fumena ou O Livro Secreto dos Gnósticos Egípcios, como o nomearam os pesquisadores. Nesse livro, Jesus pede permissão ao seu Pai (Interno) para descer desde o Absoluto até este mundo físico, passando pelos Eons (medidas iniciáticas), e pede para levar o conhecimento revelador através da Gnose. Fica, então, estabelecida a palavra Gnose como representação do Ensinamento Divino, puro, imaculado, sem manchas. Outro texto bastante interessante é o Papiro Nu ou Confissões Negativas, constituído de 42 pontos ou confissões que o neófito declara diante de sua divindade interna, seu "Kaom interior", seu juiz da consciência. Este é um trabalho psicológico idêntico ao que o mestre Samael Aun Weor nos ensina para compreendermos e aniquilarmos nossos defeitos psicológicos. Um pequeno exemplo desta confissão: "Hoje não roubei, não matei nenhum ser vivo, não maltratei meu servo, não falei palavras de ironia, não cobicei a mulher do próximo, não adulterei o peso da balança etc." Eis o trabalho de revolução da consciência ensinado por Samael”.

 

“Também circulava entre as comunidades gnósticas as palavras de Jesus, após sua ressurreição, no monte das oliveiras, quando ainda passou 11 anos instruindo seus discípulos mais próximos, sobre a Gnose. Esses diálogos foram compilados em uma Escritura Sagrada chamada Pistis Sophia, a bíblia dos gnósticos. Primeiro foi escrita em Copta e traduzida para o grego. Muito se tem especulado sobre seu verdadeiro significado, porém, (apesar de algumas traduções modernas de boa qualidade) apenas o mestre Samael conseguiu desvelar sua mensagem. Isso só foi possível através de suas "viagens espirituais" dentro do Mundo do Cristo Cósmico. Nessa região crística chegam apenas aqueles que encarnaram o Cristo em si mesmo. E nós, Cristãos Gnósticos, cremos que Samael Aun Weor é o Cristo desta Era Aquariana que veio nos entregar novamente a doutrina de salvação através da Gnose”.

 

“Segundo a Mestra Helena Blavatsky, fundadora da Sociedade Teosófica no século 19, "até o século 4° as igrejas não possuíam altares. Até então, o altar era uma mesa colocada no meio do templo para uso da comunhão ou repasto fraternal". E continua ela: "A Ceia, como missa, era, em sua origem, feita à noite".

 

Com o passar dos séculos, as igrejas foram sendo adornadas com cópias de altares da Ara Máxima da Roma pagã. Devemos saber que os primeiros cristãos (gnósticos em sua essência) não adotavam altares ou imagens publicamente. Acreditamos que de acordo com o nível de consciência de seus líderes sacerdotes foi-se modificando este conceito. Isto passou a acontecer já por volta do século 2°”.

 

“A Perseguição dos Cristãos em Roma - O Império Romano tinha seus deuses próprios e não sentiam simpatia com a nova religião que crescia sob seus olhos. Genius era o nome dado ao deus criado pelos sacerdotes romanos de acordo com a vontade do imperador, que era tido como um deus entre os cidadãos romanos. Para atender às mais diversas situações do povo romano, a cada um dos deuses (Apolo, Afrodite, Cibeles, Vesta, Vênus, etc.) lhe eram feitos festivais e adorações anuais, mensais, semanais etc. Percebe-se, aqui, a cópia das Igrejas Católica e Ortodoxa em suas festividades durante o ano com seus Santos venerados pelos fiéis. Obviamente, o Império Romano não admitiria uma ofensa sequer contra suas crenças e seus deuses pagãos vinda de comunidades judaicas helenizadas. A princípio, as comunidades cristãs eram formadas por judeus convertidos que aceitaram Jesus como seu Messias (Enviado). Com o decorrer do tempo, vários povos foram sendo evangelizados pelos discípulos dos apóstolos e aí foram se agregando à nova religião elementos de várias nacionalidades, inclusive romana e grega, que compartilhavam os mesmos deuses em suas crenças. Um exemplo dessas adaptações é a data 25 de dezembro, considerada até hoje como o dia em que Jesus nasceu na Terra Santa. Na verdade, ninguém sabe o dia correto em que Jesus nasceu. A absorção dessa data se deveu ao fato de que os pagãos de muitos rincões do Império Romano (tanto no Ocidente quanto no Oriente) rendiam culto ao Deus do Sol e do Fogo nessa data, considerada como o início em que o Sol começa sua viagem de volta à Terra para que Ele, o Deus Sol, nos traga novamente a vida, e a vida em abundância”.

 

“Com o número crescente de adeptos à nova religião em Roma, o império decidiu que os cristãos representavam um perigo maior para seu poder sobre as massas. Sob essa visão de desconfiança, todo aquele que se confessasse ser cristão era julgado e condenado à morte imediatamente. Irineu, o bispo de Roma, também conta que sofreu com as perseguições romanas. Assistiu a vários de seus "irmãos" cristãos ser queimados, torturados e mortos nas arenas do Império. Enquanto Roma perseguia cristãos, pois para o imperador parecia não haver distinção entre estes e os gnósticos (pois as duas linhas já estavam se separando cada vez com mais destaque), Irineu e seus sequazes perseguiam os gnósticos, num jogo de gato contra rato. Irineu e Tertuliano fizeram duros ataques aos gnósticos julgando-os hereges. Afirmavam que a cada dia eles apareciam com um novo evangelho; achavam também um absurdo o fato de as mulheres oficiarem em seus rituais, e que só os homens deveriam fazê-los. Para Irineu e Tertuliano, um grande filósofo da época, os gnósticos hereges deveriam desaparecer da cristandade”.

 

“Outra coisa que incomodava a Igreja predominante em Roma era o fato de os gnósticos sempre manterem uma postura neutra perante as perseguições que os cristãos sofriam. Essa "indiferença" adotada pelos gnósticos fazia com que Irineu odiasse cada vez mais seus conceitos filosóficos de vida. Entre os vários aspectos do gnosticismo primitivo, algumas escrituras mostram como seus conceitos sobre Deus e o Cristo diferiam daqueles apresentados pela Igreja Católica de Roma. Vejamos alguns exemplos: No Evangelho de Tomé consta que Jesus disse: "Se manifestarem aquilo que têm em si, isso que manifestarem os salvará. Se não manifestarem o que têm em si, isso que não manifestarem os destruirá" . Este texto nos lembra um koan do Zen-budismo, não é?”

 

“Em outro texto achado em Nagh-Hammadi, intitulado Trovão, Mente Perfeita, lemos um poema extraordinário na voz da potência feminina de Deus: "Pois eu sou a primeira e a última. Eu sou a reverenciada e a escarnecida.Sou a promíscua e a consagrada.Sou a esposa e a virgem...Sou a infecunda,e muitos são os seus filhos... Sou o silêncio que é incompreensível...Sou a pronunciação do meu nome." Entre os anos 140 e 160, Teódoto, um grande mestre gnóstico, escreveu na Ásia Menor que: "O gnóstico é aquele que chegou a compreender quem éramos e quem nos tornamos; onde estávamos... para onde nos precipitamos; do que estamos sendo libertos; o que é o nascimento, e o que é o renascimento".

 

Monoimus, outro mestre gnóstico, dizia: "Abandone a busca de Deus, a criação e outras questões similares. Busque-o tomando a si mesmo como o ponto de partida. Aprenda quem dentro de você assume tudo para si e diga: ‘Meus Deus, minha mente, meu pensamento, minha alma, meu corpo’. Descubra as origens da tristeza, da alegria, do amor, do ódio... Se investigar cuidadosamente essas questões, você o encontrará em si mesmo. Até antes da descoberta dos manuscritos do Mar Morto e de Nagh-Hammadi, entre outras descobertas passadas, só tínhamos informações sobre os gnósticos através dos violentos ataques escritos por seus opositores. O bispo Irineu, que era responsável pela igreja de Lyon, por volta do ano 180, escreveu cinco volumes intitulados Destruiçào e Ruína Daquilo que Falsamente se Chama Conhecimento, onde começa prometendo "apresentar as opiniões daqueles que hoje ensinam heresias... e mostrar como suas afirmações são absurdas e incompatíveis com a verdade... Faço isso para que... vocês possam instar todos os seus conhecidos a evitarem esse abismo de loucura e blasfêmia contra Cristo".

 

“Como diz o Mestre Huiracocha, bispo da Igreja Gnóstica Ortodoxa nos mundos superiores, que escreveu na sua obra La Iglesia Gnóstica, que os gnósticos não precisam de leis ou dogmas, e sim, de uma senda. E isso contraria as normas da seita católica quando afirma que o corpo de Cristo é formado pelos fiéis e a Igreja Católica espalhada mundo afora. Até o conceito de Criador é diferente entre as duas partes. A Igreja de Roma ainda adota o mesmo conceito dos judeus quando aceitam que Deus e a criatura são distintos entre si. Neste caso, Deus está lá em algum ponto do universo, observando suas criaturas, condenando uns ao Inferno e oferecendo o Paraíso a outros, lançando raios de ira em nossas cabeças, vingativo, caprichoso e cheio de manhas como uma criança enfadonha. Já os gnósticos concebiam, e ainda são assim, que Deus, o Incriado, o não-formado, o Incognoscível, está escondido dentro de sua própria criação, e que só conseguiremos realizá-lo dentro nós quando erradicarmos de nossa psique os elementos indesejáveis que carregamos e que adormecem nossa Consciência. Assim como predicavam os antigos gnósticos, temos de realizar a Gnose dentro e fora de nós. Aí, sim, poderemos conhecer Deus face a face sem morrer”.

 

QUESTÃO DE ESTUDO

Após a leitura deste texto, clique aqui, assista aos vídeos da aula 02, faça uma síntese conceitual do assunto, descrevendo a História da Gnose e dos Gnósticos.

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