CAPÍTULO 09 – PARES DE COMPLEMENTARES NO UNIVERSO RELATIVO

Para entendermos bem o que é a lei da morte devemos compreender o sua lei complementar, o nascimento; para compreendermos a evolução, temos que compreender a involução, coisa que o Espiritismo e as ordens religiosas não nos permitem.

Nas ciências superficiais do nosso sistema escolar antropocêntrico, os fenômenos da natureza são vistos superficialmente, de maneira fragmentária, como coisas isoladas, incoerentes, desconexas e independentes, sem fundamentação lógica.

Ao contrário disto, nas ciências de abordagem holosótico os fenômenos são tratados com responsabilidade, com profundidade, à luz da realidade, como fatos interdependentes, interconexos, integrais, simultâneos e univérsicos.

Assim, por possuirmos formação escolar antropocêntrica, introjetamos a lógica do absurdo, de maneira tal que aceitamos os fatos fragmentados, dissociados da verdade; temos dificuldades de aceitação dos fenômenos de maneira integral, como eles realmente ocorrem.

Na dimensão holosótica do cosmo, nós aprendemos analisar os fatos à luz da verdade, da inteireza, da realidade, com a razão objetiva enfocada na dialética da consciência. Na perspectiva holosótica, à luz do paradigma holístico, a realidade se reflete na luz da essência.

Os fenômenos cósmicos são percebidos pela consciência integralmente; enquanto que na formação antropocêntrica adquirida na nossa escola convencional, os fenômenos são percebidos superficialmente, devido à opacidade do ego. Assim passamos a vida inteira na escola estudando, nas ciências biológicas, o nascimento, sem falar da morte; a evolução, sem falar da involução; a lei da oitavas, sem falar da entropia. Assim tentamos reduzir os fenômenos da mecânica pendular da física apenas aos seus aspectos positivos, sem abordar os aspectos negativos,etc.

Dai da mesma forma, interpretamos os fatos psicológicos, antropológicos, filosóficos, sociológicos,etc., como fatos verdadeiros, à luz do referencial cartesiano, sem a menor reflexão profunda, sem passar pelo filtro da consciência, da compreensão. Deste modo há enorme quantidade de estudantes fazendo mestrado e doutorado, fazendo dissertação e tese sobre o fenômeno biológico do nascimento. Mas não há ninguém se mestrando e doutorando sobre o fenômeno da morte. Como se o ciclo vital fosse constituído apenas de nascimento e nenhum ser vivo morresse. Da mesma forma, a ciências, as ordens religiosas, o Espiritismo, etc., tratam da lei da evolução. Porém elas esquecem a sua complementaridade holística. Como se a evolução, ilogicamente existisse sozinha, sem a sua complementária involução.

Por tudo isto exposto, à luz da consciência, o conhecimento baseado no paradigma antropocêntrico não nos serve para adentrarmos ao portal do universo da verdade iniciática; ele é parcial, fragmentário, desprovido da realidade de todos os fenômenos univérsicos.

Então, neste livro vamos estudar os fenômenos e as leis do universo sob a óptica do paradigma gnoseolístico, para compreendermos a inteireza e a realidade dos fatos, a verdade integral ou plena.

À luz do paradigma gnoseolístico, não se pode conceber o nascimento, sem a sua parte complementar que é morte. Nascimento e morte são componentes do ciclo vital de todos os seres vivos, são partes constituintes do ciclo vital da existência da vida no seu aspecto tridimensional. Separá-los como fazem as escolas antropocêntricas é fragmentar a verdade.

Desta mesma forma, devemos estudar os fenômenos contidos nas 48 leis do cosmos, com inteireza e exatidão. Deste modo, não podemos estudar jamais a lei da evolução isoladamente, sem levar em consideração a lei da involução, que é a sua contraparte; da mesma forma, a lei das oitavas, sem consideração da lei da entropia, e todas as demais leis. No universo holístico relativístico, não há nada, nenhum fenômeno, que não possua a sua parte complementar, tudo é dualístico, que unitariza pelo encontro dos complementares.

Podemos organizar uma tabela, colocando as suas partes complementares, de um lado, chamando-os de fatores positivos e do outro, o que consideramos como fatos negativos: nascimento & morte; bem & mal; masculino & feminino; alegria & tristeza; prazer & dor; céu & inferno; deuses e diabos; essência & ego, luz e trevas,etc.

Assim como o ponto de partida e o ponto de chegado de um móvel fazem parte de uma mesma trajetória - que é construída pela união dos sucessivos pontos ocupados pelo móvel, em seu movimento, no decorrer do tempo, com relação a determinado referencial - pela dialética da consciência, respaldada no paradigma holístico do conhecimento, vamos compreender a veracidade das leis univérsicas e a inteireza dos fenômenos cósmicos.

As partes estão contidas no todo e o todo as contém. Eles, todo e parte, penetram e compenetram intrinsecamente na composição do universo relativo. O todo não seria todo, sem qualquer uma de suas partes; e a parte não existiria, sem o todo. No universo relativo que vivemos e nos inter-relacionamos holisticamente, não existe nada unipolar, tudo é bipolar.

A complementaridade holística está presente em todos os fenômenos: sociais, naturais, físicos, biológicos, químicos e em todas as leis, sejam naturais, sociais, etc. “A parte é algo diferente do todo; mas também é o mesmo que o todo é; a substância é o todo e a parte” (Heráclito de Éfeso). “Tudo é Duplo; tudo tem pólos; tudo tem o seu oposto; o igual e o desigual são a mesma coisa; os opostos são idênticos em natureza, mas diferentes em grau; os extremos se tocam; todas as verdades são meias-verdades; todos os paradoxos podem ser reconciliados” (O Caibalion).

O Caibalion se constitui num conjunto de textos atribuídos a Hermes Trismesgisto do Egito, datado de 2700 a.C. O que ele quer dizer é que a realidade ou totalidade se constitui de um conjunto unitário, formado por duas verdades relativas ou meias verdades, formadas por partes iguais, por ½ verdade (pólo -) + ½ verdade (pólo +), constituindo a verdade plena, absoluta ou integral. Cada pólo representa somente um lado da verdade, do fenômeno, do fato,etc.; representa meia verdade apenas, realidade falseada, fragmentada,etc. Os dois pólos, quando tomados em conjunto, representam a inteireza do fato, do fenômeno,etc.; representam a realidade, a verdade inteira, plena, integral, profunda ou holosverdade.

Então, ao se estudar leis, costumam-se, quase sempre, analisar tão somente um lado do fato, aquele que se constitui no aspecto positivo; deixando de lado o aspecto negativo, de modo fragmentário, à luz do paradigma antropocêntrico, desfigurando a realidade ou a verdade absoluta. Assim ocorre com o fenômeno da existência humana, em que há muitas teses de doutorados sobre o fenômeno do nascimento; entretanto, não há quase nada sobre a morte. Mas, o qualquer fenômeno da existência não fica incompleto, sem a contraparte?

A morte não se constitui na contraparte do nascimento na lei da evolução? Daí como se pode esquecer por completo a sua irmã gêmea chamada involução, como fazem algumas escolas, que ceifam a inteireza e a veracidade dos fatos, fragmentando a verdade, a realidade, a totalidade.

Para construirmos a cidadania cósmica dentro de cada um de nós e ajudarmos na construção de cidadania coletiva temos que estudar conhecer, experimentar e compreender o mais cru realismo da binaridade cósmica. Temos que sair do senso comum antropocêntrico e mergulhar na consciência gnoseolística.

Cidadania se constitui em algo que temos que construir dentro de cada um de nós mesmos, aqui e agora, com os fatores de construção da consciência e à medida que formos construindo-a, devemos trabalhar intensivamente, com alteridade, a favor de nossos concidadãos, para que eles também a construam-na. A cidadania se alimenta de interdependência entre todas as coisas do universo, cresce na solidariedade e sintetiza-se no o amor.

As escolas espirituais retrógadas não ensinam a seus fiéis a cátedra das leis holísticas da complementaridade dos fenômenos, dos fatos, de todas as coisas e a interdependência de delas. Assim, ali se concebe tudo de modo fragmentário, sem uma visão do todo univérsico ou holosótica. O que desabilita seus seguidores percorrerem a Senda Iniciática em direção à Iniciação Venusta.